RESUMO O presente trabalho apresenta, no bojo da clínica psicanalítica, um estudo de caso permeado pelas especificidades dos contextos de urgência social no campo da migração. Entendemos como uma situação de urgência social aquela em que a falta de condições materiais a que uma parcela de pessoas é submetida se une a discursos que colocam o sujeito em posições de objetificação, de submissão ao outro no laço social, em situações, pois, de desamparo discursivo (Rosa, 2016). As elaborações teórico-clínicas estão fundadas na experiência clínica que embasou a construção do caso clínico de uma criança e seus pais, bolivianos, marcados pelas consequências do trabalho escravo e pelo diagnóstico de autismo do filho. Guiando-nos pelas movimentações oriundas desse caso, apresentamos as posições assumidas pelo psicanalista diante do contexto em que se articulam aspectos sócio-políticos do sofrimento e situações de migração forçada. Esse percurso conflui na direção de situar novas abordagens e dispositivos psicanalíticos que considerem a posição do sujeito no laço social, propondo possibilidades diante das demandas endereçadas à clínica psicanalítica nos contextos institucionais e de urgência social. Além disso, propomos a noção de rede transferencial, como instrumento que norteia o trabalho do psicanalista no contato interinstitucional, com os profissionais de outras áreas e com aqueles que se encontram em situações de urgência social.
ABSTRACT The present study sought to investigate, in the perspective of psychoanalytic clinic, a case study permeated by the specificities of the contexts of social urgency in the field of migration. Social urgency entails situations in which the lack of material conditions of a portion of people joins discourses that place the subject in positions of objectification, submission to the other in the social bond, therefore in situations of discursive helplessness (Rosa, 2016). The theoretical and clinical elaborations are based on the clinical experience that supported the construction of the clinical case of a child and their parents, Bolivians, marked by the consequences of slave labor and the child’s autism diagnosis. Based on the movements arising from this case, we present the positions taken by the psychoanalyst facing a context in which the socio-political aspects of suffering articulate with situations of forced migration. This path converges in the effort to locate new approaches and psychoanalytic devices, which takes into account the subject position in the social bond, proposing significant changes vis-à-vis the demands addressed to the psychoanalytic clinic by institutional and social urgency contexts. In addition, we propose the notion of transferential network, as an instrument that guides the psychoanalyst’s work with interinstitutional contacts, with professionals from other areas and with those who are in situations of social urgency.
RESUMEN El presente trabajo busca investigar, en el seno de la clínica psicoanalítica, un estudio de caso permeado por las especificidades de los contextos de urgencia social en el campo de la migración. Entendemos como urgencia social las situaciones en que la falta de condiciones materiales a que una parte de personas es sometida se une a discursos que colocan al sujeto en posiciones objetivas, de sumisión al otro en el lazo social, en situaciones, pues, de desamparo discursivo (Rosa, 2016). Las elaboraciones clínicas teóricas se basan en la experiencia clínica que apoyó la construcción del caso clínico de un niño y sus padres, bolivianos, marcado por las consecuencias del trabajo esclavo y por el diagnóstico de autismo del hijo. Guiándonos por los movimientos surgidos en este caso, presentamos las posiciones tomadas por el psicoanalista en un contexto en que se articulan los aspectos sociopolíticos del sufrimiento y situaciones de migración forzada. Este recorrido confluye en la dirección de situar nuevos enfoques y dispositivos psicoanalíticos que tomen em consideración la posición del sujeto en el lazo social, proponiendo cambios significativos frente a las demandas dirigidas a la clínica psicoanalítica por contextos institucionales y de urgencia social. Además, proponemos la noción de red transferencial, como un instrumento que orienta el trabajo del psicoanalista en el contacto interinstitucional, con profesionales de otras áreas y con aquellos que se encuentran en situaciones de urgencia social.